Em 1983, a Apple lançou o Apple Lisa, um computador revolucionário para a época, equipado com interface gráfica e mouse. Apesar da inovação, o modelo foi um fracasso comercial. Com um preço inicial de US9.995 (cerca de R$ 50 mil em valores atuais), o Lisa era inacessível para o grande público. Além disso, problemas de superaquecimento e travamentos frequentes, causados pelo design compacto exigido por Steve Jobs, contribuíram para a rejeição do mercado. Enquanto isso, a IBM conquistava consumidores com o PC 5150, mais acessível e funcional.
Com o lançamento do Macintosh em 1984, a Apple concentrou seus esforços no novo modelo, deixando milhares de unidades do Lisa sem uso. Foi então que Bob Cook, fundador da Sun Remarketing, viu uma oportunidade. Especializado em recuperar e revender equipamentos não vendidos, Cook adquiriu os computadores Lisa a preços reduzidos e investiu US$ 200 mil em pesquisa e desenvolvimento para criar uma versão aprimorada, chamada Lisa Professional. A Apple permitiu, inicialmente, que as modificações fossem feitas para revenda.
Em setembro de 1989, a Apple mudou de posicionamento de forma abrupta. Sem aviso prévio, a empresa exigiu a devolução de todas as unidades do Lisa em posse de Cook. Um caminhão foi enviado para recolher os 7 mil computadores, que foram destruídos e enterrados em um aterro sanitário em Logan, Utah. A medida encerrou qualquer possibilidade de revenda e gerou questionamentos sobre os motivos por trás da decisão.
A Apple nunca explicou oficialmente por que destruiu os equipamentos, mas especialistas apontam algumas hipóteses:
Preservação da imagem da marca: A empresa pode ter temido que falhas nos computadores modificados prejudicassem sua reputação.
Controle do ecossistema: A Apple sempre priorizou o controle sobre seus produtos, e a revenda de equipamentos reformados ia contra essa filosofia.
Foco no Macintosh: Com o sucesso do novo modelo, manter o Lisa no mercado poderia gerar conflitos de posicionamento.
A história dos 7 mil computadores Lisa destruídos permaneceu esquecida por anos, até ser resgatada pelo documentário “Lisa: Sabotagem de Steve Jobs e o Enterro Secreto da Apple”, lançado em 2023 pelo The Verge. O caso contrasta com o atual posicionamento da Apple, que hoje se destaca por iniciativas ambientais, como a produção de modelos neutros em carbono, como o Mac Mini M4, feito com alumínio 100% reciclado. A decisão dos anos 80 levanta questões sobre a evolução da responsabilidade corporativa da empresa ao longo das décadas.
A destruição dos 7 mil computadores Lisa marca um capítulo polêmico na história da Apple, refletindo as estratégias da empresa em um período de transição e consolidação no mercado de tecnologia. O caso continua a gerar debates sobre ética, sustentabilidade e o impacto das decisões corporativas no longo prazo.